Práticas eficientes associadas a programas de incentivo podem ser a chave da recuperação econômica pós-covid
Acredito que todos vocês já devem ter pensado: O que será dos nossos negócios quando toda a crise sanitária acabar? E como manteremos os nossos negócios de pé frente à crise econômica que caminha junto à pandemia?
Diversas medidas emergenciais vêm sendo tomadas para que a economia brasileira não entre em colapso. No entanto, percebemos também que os fundos emergenciais são finitos e em alguns setores, como é o caso do setor energético, os auxílios pontuais acabam por postergar os aumentos de tarifas e tributação, alongando com isso, a curva da problemática econômica.
Falando especificamente do setor energético, podemos perceber que o setor como um todo está em crise e não apenas no Brasil, como no mundo. Pela primeira vez na história nos deparamos com o preço do barril do petróleo sendo negociado a valor negativo. Segundo o Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) levou o setor energético brasileiro a uma crise nunca vivida antes, agravada pelo cenário global. Apenas para registrar, o Brasil teve uma queda de aproximadamente 33% no consumo da gasolina, em apenas um mês. A demanda por etanol caiu 44%, óleo diesel 18%, gás natural 20% e querosene para aviação aproximadamente 85%.
Quando avaliamos o setor elétrico, o impacto foi de 22% de redução no consumo, equivalente a quase o consumo total do sul do país. Isso se deve à redução da produtividade frente à necessidade de isolamento social. E vamos mais longe, os consumidores, principalmente aqueles que compram energia do mercado livre, como grande parte das indústrias e grandes consumidores precisarão renegociar seus contratos para não quebrarem seus fluxos de caixa. As distribuidoras já começam a sofrer com a inadimplência e enviam alerta de “força maior” para as geradoras e comercializadoras referente ao cumprimento das obrigações contratuais.
O fato é que toda a cadeia do setor elétrico deverá se adaptar ao novo cenário. De certa forma se reinventar e adotar soluções inovadoras e integradas entre todos os agentes envolvidos, da geração ao consumo, renegociando contratos, formas de pagamentos, entre outras ações para mitigar os impactos que virão no médio prazo.
Começamos a perceber que a colaboração é quase que um pré-requisito para transitarmos atualmente em qualquer setor da economia. E alternativas sustentáveis e renováveis vêm surgindo como uma solução emergencial e para preservar o nosso longo prazo. A atual crise oferece uma oportunidade para isso.
Como uma luz no fim do túnel, especialistas da Agência Internacional de Energia (EIA) apontam que diversos governos começam a incluir nas suas prioridades pacotes de estímulo à utilização de tecnologias de energia limpa como forma de criar empregos e impulsionar economias agora.
Dentre essas soluções, adotar práticas de eficientização energética pode ser a grande chave para uma recuperação econômica rápida e sustentável, principalmente do setor industrial. Ainda, aliando cadeias de suprimentos locais, como a construção civil, a medidas que incentivem o desenvolvimento econômico acelerado, juntamente com a eficiência energética, pode-se alcançar benefícios de longo prazo como a melhoria da competitividade econômica de países e empresas, a acessibilidade energética para os consumidores, principalmente àqueles de baixa renda – e, é claro, a redução das emissões de gases de efeito estufa.
O setor de construção civil pode ser o grande aliado desta rápida recuperação, de negócios diretos e indiretos, criando rapidamente empregos e revigorando os negócios locais. Para isso, é claro, não podemos ter instabilidades jurídicas, pois por meio de programas de incentivo pode-se prever a melhoria energética e construtiva de empreendimentos existentes, destinando, por exemplo, a economia de energia gerada como fonte de investimento em novos empregos, serviços e melhorias sociais.
Segundo os especialistas em eficiência energética da EIA, Brian Motherway e Michael Oppermann, os governos podem liderar o caminho para aumentar os investimentos em eficiência energética, canalizando-os para edifícios públicos, como moradias sociais, escolas, unidades de saúde e escritórios do governo. Pode ser fornecido financiamento para a construção de novas escolas ou hospitais ou para atualizar as casas existentes para níveis mais altos de eficiência, criando impactos positivos de longo alcance. Vários programas de estímulo após a crise financeira global em 2008 fizeram exatamente isso, incluindo um programa americano que criou mais de 200.000 empregos.
Embora o foco esteja justamente em mitigar os impactos do curto prazo, programas bem projetados poderão maximizar os benefícios a longo prazo, elevando os padrões de eficiência e desenvolvendo novos mercados. Assim, em resposta à MP 950 do Ministério de Minas e Energia, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica – ABSOLAR apresentou um projeto onde se propõe ao governo a instalação de sistemas fotovoltaicos em consumidores de baixa renda, trazendo uma economia de R$ 817 milhões nas contas ao longo de 25 anos. O presidente da ABSOLAR afirma ainda que esse projeto visa reduzir o custo da CDE e beneficiar aproximadamente 9 milhões de pessoas de baixa renda (pelo programa Tarifa Social), não apenas por 3 meses, mas sim, por 25 anos.
Assim como estas, diversas outras ações e programas de incentivo podem ser concretizados se atuarmos de forma consciente, responsável e integrada às necessidades reais de mercado, permitindo com que diversos negócios, empresas e empregos mantenham suas atividades em operação gerando riqueza e renda para a população brasileira.