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Agro se mantém como motor da economia brasileira, colhendo bons resultados mesmo durante a pandemia

O agro continua a ser a boa notícia da economia brasileira. O setor teve crescimento nas exportações de diversos produtos agrícolas, assim como abriu novos mercados, devendo fechar o ano com crescimento, diferente de outras atividades econômicas. O setor de proteína animal é um bom exemplo. A carne suína bateu recorde de exportação no ano passado, que deve ser superado já neste ano. Os resultados do primeiro semestre apontam para um volume superior 37% em relação aos primeiros seis meses de 2019. Com isto, a expectativa é que a suinocultura brasileira atinja a marca de 1 milhão de toneladas embarcadas neste ano.

Em carne de frango, segmento no qual o Brasil é o maior exportador mundial, as projeções indicam um aumento de 3% a 5% nos embarques deste ano, chegando a 4,45 milhões de toneladas. Mesmo o mercado doméstico, onde o frango já é a proteína mais consumida, a expectativa é de um crescimento de 2,5% no consumo per capita. O setor de ovos também deve crescer bastante neste ano, impulsionado por sua qualidade e por ser a proteína animal mais acessível em termos de preço ao consumidor. Nos últimos cinco anos, o mercado de ovos cresceu 22%. Em termos de consumo por habitante, ele deve fechar 2020 em 240 unidades per capita, ou seja, dez a mais para cada brasileiro, na média.

As exportações de commodities agrícolas continuarão a ter um papel importante na balança comercial brasileira. Só em junho deste ano, as exportações do agro atingiram US$ 10,17 bilhões, um recorde para o mês, segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os embarques de produtos agrícolas – principalmente carnes e soja – tem sido favorecidos pela alta demanda chinesa (que perdeu grande parte do seu plantel de suínos em decorrência do surto de Peste Suína Africana), pela disputa comercial entre Estados Unidos e China e por aspectos ligados à segurança alimentar de inúmeros países, causada pela disseminação do Coronavírus e seu impacto em diversas atividades econômicas.

O agronegócio também irá contribuir para a redução no tombo do PIB brasileiro neste ano, que já vinha registrando baixos níveis de crescimento, mas, impactado pela pandemia, deve fechar 2020 com queda de até 9%, de acordo com a instituição que o calcula. O último dado do Banco Central indicava uma redução próxima de 6%.

No entanto, se observarmos o agro dentro de seus vários segmentos, iremos notar que a pandemia de Covid-19 levou a diferentes impactos. As culturas anuais, como soja e milho, e as perenes, como laranja, café e cacau tiveram suas demandas elevadas no mercado internacional, impulsionadas pela disparada do dólar, que chegou a atingir valores próximos a R$ 6,00. Relação de troca que também beneficiou os embarques de proteína animal. Isto elevou a competitividade do produto brasileiro no contexto internacional, ampliando a rentabilidade de produtores e indústrias exportadoras.

O contexto foi bem diferente, no entanto, paras as culturas de ciclo curto, os chamados hortifrutigranjeiros. Com até três semanas entre plantio e colheita, verduras e legumes sofreram o impacto direto do fechamento de restaurantes, lanchonetes e do setor de food service. Sem ter onde colocar o produto e, pela perecibilidade, de estocá-lo, os prejuízos foram grandes neste segmento. O mesmo pode-se dizer do cultivo de flores, que amargou uma situação dramática.

O setor sucroenergético também foi afetado pelas medidas de isolamento social. Com as restrições de circulação houve queda no consumo de etanol. Atrelado a disputa entre Rússia e países árabes no campo do petróleo, que derrubou as cotações internacionais do barril, o que influencia diretamente no preço do etanol, o setor se voltou à produção de açúcar nas chamadas usinas flex. No entanto, a demanda pelo açúcar também caiu, assim como seu preço no comércio internacional. Cenário que, com a flexibilização do isolamento social, tem retornada a sua normalidade.

Um aspecto que contribui fortemente para o contínuo avanço das exportações foi a manutenção das operações logísticas. Com os portos, rodovias e todo o tipo de estrutura de transporte em funcionamento no período mais crítico da pandemia, o país conseguiu escoar tranquilamente sua produção, não só cumprindo com as vendas fechadas, mas ampliando os negócios conforme crescia a demanda.

O futuro tende a ser ainda mais promissor para o agro brasileiro, principalmente se pensarmos que nos anos 1970 o Brasil era um importador de alimentos, com forte dependência de vários produtos do comércio internacional. A criação da Embrapa e de empresas estaduais de extensão rural criaram uma rede de difusão de conhecimento e tecnologia no campo. A capacitação de profissionais e pesquisadores no exterior, acompanhado da incorporação do cerrado e do domínio da agricultura tropical transformaram completamente esta história.

Nas décadas seguintes, o país avançou na produção de alimentos, gerando atualmente um montante suficiente para alimentar quase duas vezes e meia toda a sua população, o que o permitiu crescer nas exportações e se tornar decisivo para suprir a segurança alimentar de populações em inúmeros mercados mundiais.

A rápida expansão no fornecimento agrícola possibilitou ao Brasil se tornar, atualmente, o segundo maior exportador de alimentos do mundo em volume, comercializando seus produtos com mais de 180 países. Segundo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), até 2027 a produção agrícola brasileira deverá crescer quase 41%, acima de qualquer outro país. Ou seja, o agro se manterá firma como o grande motor da economia brasileira.

Sobre Andrea Gessulli:

Andrea Gessulli é Diretora da Gessulli Agribusiness, editora das revistas e portais Avicultura Industrial e Suinocultura Industrial. Criou a revista Biomassa e Bioenergia, também presente na internet. Andrea foi a idealizadora e há duas décadas organiza a AveSui – principal evento de proteína animal da América Latina. Vale destacar que a Gessulli Agribusiness vem gerando conteúdo exclusivo e de excelência há 110 anos.