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Biocombustíveis: uma oportunidade para o desenvolvimento econômico sustentável nacional

Entrevista: Geraldine Kutas – UNICA

Biocombustíveis: uma oportunidade para o desenvolvimento econômico sustentável nacional

Quando o assunto é biocombustíveis, a busca pelo aprimoramento das tecnologias, inovações e investimentos no setor de forma global, não param. Afinal, além do petróleo ser uma fonte energética finito, a preocupação com as mudanças climáticas está cada vez mais em foco.

Em meio a este cenário, o Brasil ganha destaque em função do RenovaBio, programa que entrará em vigor em 2020 e que contribui com a regulamentação do setor de biocombustíveis no país. Ainda, o RenovaBio vem com o objetivo de traçar uma estratégia conjunta para reconhecer o papel dos biocombustíveis na matriz energética brasileira, tanto para segurança quanto para mitigação das emissões de gases de efeito estufa.

Para saber mais sobre o programa RenovaBio e como está o mercado de biocombustíveis, Renata Abreu, diretora da NRG Soluções Sustentáveis, conversou com Geraldine Kutas, Assessora Sênior da Presidência para Assuntos Internacionais da UNICA – União das Industrias de Cana de Açúcar.

 

No Brasil, falta política e incentivo no setor?

Temos o RenovaBio, que é um baita programa. Ele deve começar a vigorar a partir começo do ano que vem. E estamos superfelizes, porque ele deve deslanchar a inovação e investimentos no setor. Como os biocombustíveis vão competir entre eles para a redução de gases de efeito estufa, as empresas vão precisar investir para atingir esta redução. E esses investimentos devem abranger desde setores agrícolas até os industriais com foco em inovação e sustentabilidade.

 

Em sua apresentação sobre o RenovaBio realizada no painel sobre “As aplicações da pesquisa científica na indústria” da EUBCE 2019, você comenta sobre a certificação do programa. Como isso ocorrerá?

A certificação vai contemplar todo o ciclo de vida do produto (no caso, do biocombustível), desde a parte agrícola até a industrial, indo desde a plantação até ao produto final. E esse processo valerá para todos os biocombustíveis que entrarem no RenovaBio. Ao avaliarmos o processo de certificação podemos considerá-lo também inovador e um tanto quanto desafiador.

Observando o setor de cana de açúcar, até agora, apenas parte das usinas de cana é certificada com Bonsucro*, chegando, ao todo, em 65 usinas. O Bonsucro possui uma metodologia de análise de ciclo de vida bastante pertinente para o desenvolvimento sustentável do setor sucroalcooleiro, mas o que são 65 perto de 380 usinas, de etanol e açúcar certificadas?

O programa RenovaBio tende a ampliar o número de usinas sucroalcooleiras certificadas e ainda promete incluir outros setores produtores de biocombustíveis. Ainda, vai dar um certo equilíbrio, principalmente do ponto de vista ambiental, entre as diferentes matérias primas, porque elas serão tratadas, no processo de certificação, de formas similares.

  

E com relação ao produtor?

Eu acho que o produtor tem que ser preparado para a certificação. Porque têm setores que tem muitas certificações e auditorias, então, quando você fala em certificação, eles ficam arredios. Já outros que não têm nenhuma. Aliás, eles nem sabem o que é.

Apesar de nos inspirarmos muito nos processos de certificação europeus, precisa ocorrer uma regionalização dos critérios, pois o que se aplica na Europa, não necessariamente se aplicaria no Brasil. Então não dá para importar o modelo, sem adaptá-lo.

A implementação de um modelo de certificação deve ser gradativa, mas é um processo de melhorias continuas, e de certa forma, mudança de comportamento.

 

Falando um pouco sobre o mercado de biocombustíveis. Qual a sua opinião sobre os biocombustíveis de Segunda Geração no Brasil?

Do ponto de vista tecnológico, a produção de biocombustíveis de segunda geração não apresenta tantos obstáculos. No entanto, o custo de produção é muito alto em função do custo das enzimas e por falta de escala. E ainda, não se tem políticas que promovam a produção de biocombustíveis de segunda geração no Brasil.

A Europa também “sofre” da escalabilidade de plantas de segunda geração.

 

Qual seu parecer sobre as pesquisas brasileiras?

Há muitas universidades brasileiras de qualidade realizando excelentes pesquisas. Porém, o problema é que as pesquisas que estão sendo realizadas ficam apenas a nível laboratorial, pois uma vez extinguido o programa FINEP-BNDES não existe um fundo que invista na validação da tecnologia ou produto no mercado.

Um cenário promissor é a nova legislação do pré-sal, a qual as empresas deverão investir 1% em P&DI. Espera-se que esses recursos ultrapassem as temáticas relacionadas ao pré-sal.

 

Sobre a UNICA, qual ou quais as principais regiões de atuação?

Nossa maior atuação está no Estado de São Paulo (60%). No entanto, atuamos nos Estados vizinhos, em função de nossos membros ter investido lá.

A associação se expressa e atua em sintonia com os interesses dos produtores de açúcar, etanol e bioeletricidade tanto no Brasil como ao redor do mundo. O domínio técnico da UNICA compreende as áreas de meio ambiente, energia, tecnologia, comércio exterior, responsabilidade social corporativa, sustentabilidade, legislação, economia e comunicação. No final de 2007, a UNICA abriu o seu primeiro escritório internacional nos Estados Unidos e em 2008, na Europa, como parte de sua política de prover informações detalhadas e atualizadas sobre as importantes contribuições socioeconômicas e ambientais do setor de açúcar, etanol e bioeletricidade a interlocutores como consumidores, governos, ONGs, empresas e mídia.

As mais de 120 companhias associadas à UNICA são responsáveis por mais de 50% do etanol e 60% do açúcar produzidos no Brasil.

 

*Bonsucro: A Bonsucro é uma organização global sem fins lucrativos, formada por múltiplas partes interessadas (multi-stakeholder) dedicada a reduzir os impactos ambientais e sociais da produção de cana-de-açúcar, reconhecendo também a necessidade de viabilidade econômica. A Bonsucro liga seu nome a um produto ou processo que tenha sido certificado por um organismo independente de certificação em conformidade com o Padrão Bonsucro. Ė o primeiro padrão métrico mundial para a cana-de-açúcar.

Mais informações: https://www.bonsucro.com/wp-content/uploads/2017/01/PORTUGUESE-A-Guide-to-Bonsucro-FINAL_DEC2013.pdf