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Biogás é solução para volatilidade de custos e tratamento de resíduos da agroindústria brasileira

Biogás é solução para volatilidade de custos e tratamento de resíduos da agroindústria brasileira

Bruno Casagranda Neves

Especialista em Gestão de Projetos do projeto GEF Biogás Brasil e consultor da UNIDO

O agronegócio brasileiro se consolida como força indispensável de sustentação econômica do Brasil neste período de pandemia. Mesmo com a desestabilização temporária da cadeia internacional de alimentos, provocada pelo fechamento de fronteiras e pela suspensão de exportações em alguns países, o Brasil segue batendo recordes de produção e vendas no exterior, garantindo sua contribuição na estratégia global de segurança alimentar. Se a expectativa atual para 2020 se confirmar, o agronegócio completará três anos seguidos de crescimento acima do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Além disso, segundo dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), enquanto o setor industrial global registrou queda de 6% na produção após o primeiro trimestre de 2020, o crescimento da produção global de alimentos em 2% no mesmo período manteve a trajetória ascendente do agronegócio brasileiro.

O cenário de conquistas demanda, no entanto, a busca por novas estratégias de reforço dos impactos positivos do agronegócio na retomada do crescimento brasileiro durante a contenção da pandemia. Estimativas atuais sobre o desempenho da economia global, e da brasileira em específico, são mais incertas do que nunca. O ambiente de competição global exige atenção do setor agrícola aos pontos frágeis da cadeia produtiva, bem como às flutuações cambiais e do preço do diesel. Nesse sentido, a cadeia de valor do biogás no Brasil se apresenta como uma oportunidade única de redução da dependência do setor agroindustrial em relação às importações e às flutuações nos custos de produção. Além de aumentar a oferta de energia e combustível renováveis no interior do país e de dar uma destinação eficiente para os resíduos gerados pela produção agroindustrial, o biogás é uma solução concreta para a volatilidade dos custos atrelados ao câmbio internacional.

A produção brasileira de grãos, por exemplo, é uma força motriz altamente dolarizada. Enquanto o milho destina-se principalmente ao mercado interno e sofre a cada safra com as flutuações, a produção de soja, majoritariamente exportada, tem os custos de produção cobertos – por enquanto – pelo ótimo patamar de preços no exterior. Na produção de proteína animal, o cenário é semelhante: além das consequências oriundas do impacto cambial de insumos específicos, o setor absorve parte da variação dos custos de produção de grãos. E no mercado de suínos, bovinos e aves, ainda fortemente caracterizado pelo consumo interno, as exportações têm aumentado em um cenário de real desvalorizado – cenário que pode mudar caso a moeda nacional ganhe mais força.

A inserção da cadeia de valor do biogás nesse cenário de incertezas traz perspectivas positivas em diversas frentes. A biodigestão anaeróbia – processo de tratamento de resíduos que possibilita a geração de energia e combustível a partir do biogás – dinamiza a governança territorial, permitindo um planejamento mais eficiente dos resíduos da agroindústria e aumentando a lucratividade de atividades como a suinocultura, sem comprometer os solos ou os recursos hídricos do território. O biogás tem impactos ainda maiores na competitividade dos sistemas de produção: ao explorar o potencial energético de seus resíduos, o agronegócio assume o protagonismo na descentralização da oferta de energia e de biocombustíveis para seu próprio desenvolvimento, bem como para sustentar o desenvolvimento do território onde está inserido.

Experiências importantes já ocorrem neste momento no Brasil. A empresa Raízen, por meio de seu projeto de produção de biogás em Bonfim (SP), estima uma geração de 138 mil MWh por ano. A empresa Cocal, em parceria com a GasBrasiliano, em sua unidade em Narandiba (SP), projeta a produção de mais de 65 mil m³ de biometano por dia, substituto direto do gás natural. A Cooperativa Castrolanda e a Unium – união das cooperativas Frisia, Castrolanda e Capal – desenvolvem dois projetos de biodigestão que, somados, devem disponibilizar uma capacidade superior a 1,5MW de energia e produzir 290 toneladas por ano de CO2 para uso industrial.

Analisadas em conjunto, as iniciativas mencionadas representam mais de R$ 320 milhões em investimentos diretos, fomentando a geração de empregos na indústria, na construção civil e em diversos segmentos de serviços. Também representam o tratamento de centenas de milhares de toneladas de resíduos, reduzindo a emissão de gases poluentes na atmosfera e disponibilizando resíduos tratados para aproveitamento pela indústria de fertilizantes ou pela própria agroindústria em suas cadeias de produção, garantindo oferta regional de insumos diferenciados. São novos acordos e parcerias a serem estabelecidos, novas tecnologias e modelos de negócio a serem implementados, com ganhos potenciais a todos os envolvidos. E o benefício principal: o investimento em biogás amplia a competitividade e a atratividade do agronegócio frente à competição internacional, oferecendo novas perspectivas e oportunidades.

Neste momento, estados já organizam seus ambientes de negócios, promulgando políticas e regulamentando dispositivos de incentivo para um cenário favorável ao biogás. O Governo Federal também abre diversas frentes relacionadas ao setor, com a implementação do RenovaBio, a promulgação do programa para o Novo Mercado de Gás e o recente decreto nº 10.387, de 5 de junho de 2020, que trata incentivo ao financiamento de projetos de infraestrutura com benefícios ambientais e sociais. No campo da cooperação internacional, destaca-se o projeto GEF Biogás Brasil, que prevê ações locais e federais de estímulo à integração do biogás à cadeia produtiva brasileira.  O projeto é financiado pelo Fundo Global do Meio Ambiente (GEF), implementado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), em parceria com outros ministérios, empresas e entidades setoriais.

Saiba mais sobre como o biogás pode fazer parte da sua estratégia de negócios em https://www.gefbiogas.org.br/.