Cidade Inteligente e Humana
A cidade inteligente tem como centro do seu planejamento as pessoas. Em diversos aspectos, a cidade que se planeja com cultura da inovação e o olhar no cidadão transforma a sua vida para melhor. No entanto, após anos de muito aprendizado e diversos projetos, estou cada vez mais convencida que a cidade inteligente depende de inúmeros fatores. Conhecendo cases de cidades mundo afora, chego à conclusão que não há receita, como também não há resposta errada, para a definição de SmartCity.
É certo ter na tecnologia um pilar estruturante para a implantação de um projeto de SmartCity. É indiscutível que a educação empreendedora e digital é um pilar fundamental. Educar as pessoas para a visão de uma cidade inteligente é um desafio e uma necessidade. Dar oportunidades para a inserção de jovens e idosos, incluir digitalmente a população mais vulnerável, pensar em acessibilidade e inclusão são preocupações constantes no planejamento público e privado.
Também é preciso dar mais oportunidade às mulheres, que podem ter uma participação importante na transformação das cidades e atuando em inovação e tecnologia. O percentual de mulheres entre profissionais de Tecnologia da Informação (TI) ainda é muito pequeno. Por isso são fundamentais iniciativas como a da regional do Paraná da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro), que criou neste mês o Conselho Consultivo de Mulheres em Tecnologia, o qual terei a honra de presidir.
Ao se falar de cidade inteligente, também é certo falar em urbanização e sustentabilidade. As mudanças climáticas são tema urgente no mundo e as cidades precisam buscar alternativas para harmonizar a vida nos grandes centros, proporcionar qualidade de vida para que as pessoas morem, estudem, se desloquem, trabalhem e vivam com melhor mobilidade, espaços públicos mais atrativos enfim, ambientes completos, eficientes, e assim inteligentes.
Em Curitiba, por exemplo, ações fortes buscando desenvolvimento sustentável estão no DNA local. A cidade acompanha movimentos mundiais importantes, como o C40, rede de Grandes Cidades para Liderança do Clima, o que já resultou no PlanClima, Plano de Adaptação e Mitigação das Mudanças Climáticas de Curitiba, que tem ações como Desafio das 100 Mil Árvores; o Curitiba Mais Energia, que já transformou o Palácio 29 de Março em usina de energia solar; a multiplicação das hortas urbanas; a Fazenda Urbana; a grande cadeia de reciclagem; e o futuro processo de produção de Combustível Derivado de Resíduo junto às cimenteiras da Região Metropolitana.
Também tivemos apoio e recursos da C40 na estruturação de projetos para a implantação de usinas fotovoltaicas no bairro Caximba, a pirâmide solar no aterro sanitário desativado, na Rodoviária e nos Terminais Pinheirinho, Santa Cândida e Boqueirão.
A população quer viver num mundo onde a gente não seja refém do desequilíbrio climático. E uma das formas de combater isso é com a energia limpa, com a eletromobilidade, com a microbilidade moderna, em que a mobilidade é vista como um serviço em cadeia, o MAAS, mobility as a service.
Na Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, que representa o poder público municipal no movimento Vale do Pinhão, que reúne também universidades, instituições, indústrias, empresas, startups e investidores no ecossistema de inovação da cidade, trabalhamos com ênfase em pilares aderentes à cidade inteligente, como educação empreendedora, fomento à inovação, tecnologia, conexão e reurbanização e sustentabilidade.
Hubs como o NRGhub se alinham a esses pilares e são parte importante na chamada tríplice hélice, fundamental para o desenvolvimento econômico, social e humano das cidades, com poder público, academia e setor produtivo trabalhando em harmonia e colaboração para o desenvolvimento comum. Essa visão vem se fortalecendo com novos modelos de geração do conhecimento, e somam-se às três hélices a sociedade (quarta hélice) e o ambiente (quinta hélice), importantes na dinâmica da inovação.
E na Agência, particularmente, também estamos preparando o lançamento do nosso Hub de Inovação, cujo prédio entra em reforma nesse ano. Vamos prepará-lo para ser o Centro de Inovação mais moderno no Brasil, e um grande marco para a inovação na cidade. Será o primeiro prédio público inteligente da cidade, totalmente sustentável, dentro dos parâmetros do Certificado LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), que credencia os chamados “edifícios verdes” ao redor do mundo. O Hub terá iluminação natural, captação de água de chuva, pouca geração de resíduos no processo construtivo, uso de energia solar e um moderno eletroposto para carregamento de carros elétricos.
O caminho está bem trilhado, mas a prontidão tem que ser permanente. A inovação só vale quando se torna um processo social e começa a melhorar a vida das pessoas. A cidade só é inteligente quando é humana.
Sobre Cris Alessi:
Publicitária, especialista em Marketing Digital e em Comunicação Digital na Gestão Pública. É presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, responsável pelos projetos de inovação de Curitiba com o movimento Vale do Pinhão. Também é presidente nacional do Fórum InovaCidades; do Conselho Municipal de Inovação de Curitiba; e do Conselho Consultivo de Mulheres em Tecnologia da Assespro-PR. Board Member. MasterClass Governança & Nova Economia certificada pelo Instituto Governança & Nova Economia. Palestrante. Professora.