Com recorde de público, a Smart City Expo Curitiba 2023 reuniu, na última semana de março, mais de 15 mil pessoas e representantes de 450 municípios, na quarta edição do maior evento de cidades inteligentes do país. O encontro, que terminou com um volume de negócios fechados de mais de R$ 150 milhões – o triplo do valor registrado na edição anterior -, aconteceu em Curitiba (PR). A capital paranaense é considerada a cidade mais sustentável da América Latina (ranking Corporate Knights), e a mais inteligente do Brasil (Connected Smart Cities). Os números do evento refletem o crescimento do engajamento dos municípios brasileiros com o desafio de incorporar a inovação e a tecnologia ao planejamento urbano, segundo o sócio diretor do iCities – The Smart Cities Hub, hub responsável pela organização do encontro, Caio de Castro, Especialista do Mês na programação do Energy Connection.
Em entrevista ao EC, o consultor destacou o processo acelerado da transformação digital das cidades brasileiras, principalmente para a gestão pública, que ocorreu em função da pandemia. O avanço tecnológico nos municípios, segundo ele, se deu em diferentes áreas, como a segurança pública, educação, saúde e mobilidade urbana. “O impacto do ritmo que a pandemia impôs ao desenvolvimento de soluções tecnológicas se mostrou importantíssimo para a evolução do mercado de cidades inteligentes, E o interesse pela inovação consolidou o entendimento de que cidade inteligente é a que usa as ferramentas tecnológicas a fim de trazer qualidade de vida para o cidadão, não sendo o fim, mas sim o meio para a evolução dos municípios”, define.
Para Castro, a sustentabilidade está no centro do conceito de cidades inteligentes. Considerando que mais da metade (55%) da população mundial reside nas cidades e que, até 2050, o percentual deve chegar a 70%, segundo estimativa da ONU, o planejamento urbano atualmente está entre os pilares da transição para a economia de baixo carbono. Apesar de ocuparem apenas 3% do território do planeta, as cidades são responsáveis por 70% das emissões de gases do efeito estufa. A reversão da escalada de poluição e degradação ambiental, segundo o especialista, está entre os principais desafios para a transformação das metrópoles em cidades inteligentes.
De um lado, de acordo com o consultor, a gestão pública tem a urgência de aplicar a tecnologia no planejamento urbano, investindo na redução de emissões de CO2 no transporte público e em infraestrutura que favoreça o uso de meios de transporte menos poluentes. A ampliação de áreas verdes, ocupação dos espaços urbanos ociosos, reaproveitamento da água, gestão responsável dos resíduos e a opção por fontes renováveis de energia estão entre os pontos prioritários da transformação das cidades, com foco na preservação ambiental e qualidade de vida dos habitantes.
De outro lado, as “smart cities” dependem também das mudanças basilares nos diversos setores da economia. “Nas cidades inteligentes, teremos cada vez mais as chamadas indústrias sem chaminés, que irão movimentar a economia global nos próximos anos, reduzindo os impactos ao meio ambiente mas, ao mesmo tempo, com foco no desenvolvimento tecnológico. As empresas que não tiverem esse foco estarão caminhando na contramão. As energias renováveis serão essenciais para a mudança energética que viveremos nos próximos anos, puxada principalmente pela eletrificação dos automóveis. O crescimento de fontes alternativas como a eólica e principalmente a solar é bastante significativo, mas deve continuar avançando a passos largos. Outras tecnologias de energias limpas também devem avançar, como o hidrogênio verde, importantíssimo para o mercado automotivo. Cada vez mais, teremos também nossa autossuficiência energética, com o esperado avanço das baterias, para que possamos ter nossos próprios sistemas off-grid e cuidarmos com mais afinco da nossa própria energia gerada”, diz.
Com relação ao conceito de cidades inteligentes atrelado à sustentabilidade, o consultor chama atenção para a importância de entender a mesma em seus três eixos. “Uma cidade não pode ser inteligente sem ser sustentável. Primeiramente, porque a sustentabilidade não está apenas no fator ambiental, mas também no social e financeiro. Do lado financeiro, sabemos que as contas públicas estão cada vez mais justas e as tecnologias podem auxiliar os governos a melhorar a gestão e aumentar a eficiência no funcionalismo público. Do lado social, a inclusão também é uma peça-chave para que uma cidade inteligente se desenvolva com igualdade. Por fim, do lado ambiental, teremos cada vez mais controle sobre nossas emissões de carbono e, através da coleta de cada vez mais dados, poderemos ter decisões mais eficazes, para não dizer inteligentes, sobre como podemos amenizar essa crise do aquecimento global”, defende.
Na visão do Especialista do Mês do Energy Connection, a inovação é a chave para a necessária evolução das cidades, considerando a complexidade dos desafios e soluções necessárias para desatar os nós do crescimento urbano desordenado. “A inovação é transversal e deve estar em cada tomada de decisão, principalmente quando falamos em cidades. A inovação é a alma de toda solução de smart cities. Vivemos e vamos continuar vivendo cada vez mais nas grandes urbes e precisamos de soluções cada vez mais inovadoras para conter o chamado urban sprawl, que é o crescimento desordenado das cidades e que acontece em todo mundo”, conclui.
Sobre Caio de Castro:
O consultor comercial e empreendedor Caio de Castro é sócio diretor do iCities – The Smart Cities Hub, empresa pioneira no Brasil em projetos e soluções para cidades inteligentes, que está há 12 anos no mercado e tem a chancela da FIRA Barcelona internacional, com a edição brasileira do maior evento do mundo do setor. o Smart Cities Expo Curitiba. Graduado em Desenho Industrial pela Universidad Andrés Bello (Santiago, Chile), tem MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV. Foi membro da Global Shapers Community, iniciativa do Fórum Mundial que visa unir jovens empreendedores de alto impacto.