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COVID-19 COLOCA ENERGIAS RENOVÁVEIS EM COMPASSO DE ESPERA, MAS FUTURO É PROMISSOR, DIZEM ESPECIALISTAS

Em bate-papo virtual realizado no último dia 28, nomes importantes do setor avaliam momento de estagnação e projetam futuro pós-pandemia


No último dia 28 de abril, especialistas do setor de energias renováveis do Estado do Paraná se reuniram, em uma webinar promovido pelo NRGHUB, para discutir os impactos da crise do Covid-19 nos diversos segmentos que compõe o cenário de geração de energia limpa no Estado e seus desdobramentos econômicos. Entre particularidades enfrentadas por cada área em um momento de dúvida quanto ao futuro, a ideia de colaboração entre o setor foi apontada pelos participantes como fundamental para a retomada econômica pós-pandemia.

O bate-papo virtual reuniu Paulo Schmidt, assessor da superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná e presidente do Comitê Gestor do Projeto Smart Energy Paraná; Felipe Marques, diretor de desenvolvimento tecnológico do CIBiogás; César Augusto, sócio diretor e fundador da Domínio Solar; e Pedro Masiero, sócio fundador da Lummi Energia. A conversa foi moderada por Renata Abreu, CEO da NRG Soluções Sustentáveis e fundadora do NRGHUB, o primeiro Hub de Energia do Brasil.

“A gente muda por dois motivos: ou pela visão ou pela crise”, destacou Schmidt. “A visão é o melhor indutor, porque a crise pressupõe o medo e leva você a outros efeitos. Infelizmente desta vez, vamos mudar pela crise”, apontou, ao avaliar que o momento obriga o setor a repensar decisões e até mesmo modelos de atuação.

Com a crise sanitária e econômica, Schmidt entende que o setor de energias renováveis vai depender cada vez mais de sistemas resilientes, que suportem impactos como os gerados por esse momento. E nesse sentido, a geração descentralizada terá um papel importante a partir dos efeitos econômicos já sentidos pelo país. Em dezembro do ano passado, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o professor do departamento de economia da Universidade da Califórnia, Rodrigo Pinto, informou que, apenas em novembro daquele ano, a produção de energia solar em forma de geração distribuída gerou redução de custo de R$ 66 milhões para o sistema elétrico brasileiro. Segundo dados de março da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), hoje são 201.773 sistemas conectados na modalidade de geração distribuída.

O impacto nas PCHs

“Essa crise é de curto prazo”, defende Masiero. E ao considerar que os investimentos em PCHs são de médio e longo prazos, afirma não ter visto, pelo menos até o momento, investimentos programados para os próximos dois ou três anos serem interrompidos ou postergados.

A dificuldade maior no momento, explica, está na cadeia logística e nos fornecedores. “Às vezes vou contratar um serviço para uma obra em andamento e esbarro em um fornecedor dizendo que não consegue atender [ao pedido] porque em determinada cidade não há hotel ou pousada [disponível] para hospedar a equipe dele”. Embora entenda que haja, no setor, incertezas quanto ao futuro, Masiero mostra otimismo. “O Paraná tem uma vocação muito grande para energia hídrica e o trabalho vai continuar”.

Energia solar

Em um raio-x resumido do setor, César Augusto destacou que enquanto a maior parte das obras de grande porte segue sendo executada, algumas obras de menor dimensão estão sendo repensadas.

Em uma projeção, César acredita que será preciso muita infraestrutura para a geração de emprego; e para isso, energia barata será muito bem-vinda na retomada econômica. “A geração distribuída vem se mostrando bem interessante para a geração de emprego”, aponta. Para ele, passado esse momento de estagnação, os grandes geradores de energia ou mesmo os agentes governamentais terão de agir para baratear a energia para a indústria, um dos grandes consumidores do insumo no país. “Deste modo, a indústria vai produzir com menos custo e gerar mais emprego, mais renda, para a economia andar”, acrescenta. Linhas de crédito de prazos mais longos serão fundamentais também para tirar projetos maiores do papel.

Biogás não parou

Felipe Marques celebra o fato de que, no setor de biogás, a decisão de investimentos em projetos continua. “Os projetos que estavam em análise continuam de pé. Não houve recuo”, salienta. “O que a gente identificou é que projetos que precisam importar algum equipamento ou componente vão ser impactados em cronograma e em custo”.

O país conta com fornecedores nacionais para atender os projetos menores. Assim, o impacto maior deve ser observado sobre os investimentos em plantas de maior porte, já que elas dependem muitas vezes de itens importados. “Esses sim vão esperar que essa questão de logística, do tempo que a peça vai demorar a chegar, se resolva. Vai haver um tempo até as coisas ficarem mais previsíveis para a retomada dos investimentos”, acredita Marques.

Horizonte pós-pandemia

A expectativa dos especialistas é otimista. Schmidt acredita que, durante e após a crise, o discurso a ser adotado pelo setor é colaboração. “Cabe a nós associar os projetos de renováveis para o Estado dentro de uma visão otimista de retomada do desenvolvimento econômico, da geração de empregos, tudo dentro da ideia de cooperação. Precisamos construir pontes entre as várias visões do empreendimento, entre políticas públicas e os negócios para que, acima de tudo, a gente fortaleça as decisões que virão e levar propostas consistentes ao governo nesse sentido”.

Masiero acredita que o setor está alinhado quanto à necessidade de que as fontes renováveis devem ser complementares em vez de concorrentes. Renata acrescenta que o momento precisa servir aos diversos atores deste setor como impulso para a busca por reinvenção e inovação. “Os setores públicos e privados podem e devem cooperar entre si, por meio de novos formatos e modelos, para o desenvolvimento do setor de renováveis no Paraná”, defende.

Texto: Comunicação NRGHUB.