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Desafios, tendências e acontecimentos na mobilidade urbana de Curitiba

Especialista Luiz Henrique Calhau da Costa compartilha sua experiência com o NRGHUB

 

O NRGHUB conversou com Luiz Henrique Calhau da Costa, Engenheiro Civil e Mestre em Planejamento Urbano pela Universidade Federal do Paraná, especialista em Direito à Cidade e Gestão Urbana pelo Instituto Ambiens e consultor em Estudos de Tráfego e Planejamento de Transportes. No nosso bate-papo, Luiz Henrique fala sobre os desafios, as tendências e também o que está sendo feito em Curitiba quando falamos de Mobilidade Urbana.

 

NRGHUB: Como você enxerga a mobilidade nas cidades nos dias de hoje?

Luiz Henrique: A mobilidade urbana sofre de um mal previsto há mais de trinta anos: o excesso de automóveis por número de pessoas na cidade. O uso indiscriminado do automóvel particular, principalmente usado de maneira individual, gera impactos na vida da população, como congestionamentos cada vez mais extensos e poluições do ar e sonora.

Há ainda estudos que indicam uma relação entre o nível de stress das pessoas e os congestionamentos. Isto, sem mencionar o impacto econômico que a perda de tempo no trânsito gera, tanto na competitividade dos preços dos produtos nacionais, quanto na vida de cada trabalhador.

Dado este breve diagnóstico, muitas causas podem ser encontradas e relacionadas com a mobilidade urbana pouco sustentável que vivemos hoje. Em contraponto a isto, medidas devem ser tomadas na promoção de uma mobilidade urbana sustentável, já prevista institucionalmente através da Política Nacional de Mobilidade Urbana de 2012. No entanto, os Municípios e Estados ainda se perdem na aplicação de um dos pilares da mobilidade sustentável: a inversão de prioridade nos espaços urbanos em favor da mobilidade ativa (pedestre e ciclista) e coletiva (transporte coletivo) em detrimento da mobilidade motorizada individual (carro e moto).

Alinhar a atuação do poder público na gestão urbana com as diretrizes da mobilidade urbana sustentável e com as demandas da população deve ser o maior desafio e horizonte no futuro do que podemos chamar de mobilidade.

 

NRGHUB: Quais as inovações atualmente que podem contribuir com a sustentabilidade da mobilidade?

Luiz Henrique: A sustentabilidade na mobilidade deve levar em conta três aspectos – ambiental, econômico e social. Algumas transformações na oferta de transporte urbano, como os aplicativos de transporte e de compartilhamento de bicicletas e patinetes podem ser pensadas a partir deste tripé. Do ponto de vista ambiental ainda é incerto se o Uber representa um ganho em termos de sustentabilidade, pois o aplicativo acaba por promover a maior utilização do carro, ainda que um carro esteja sendo usado por diversos usuários ao longo do dia. Os patinetes e bicicletas, por oferecerem, em sua maioria, complementos de viagem, também se mostram tímidos na transformação da mobilidade. No entanto, são ideias que partiram do mercado e que transformaram nosso modo de pensar e agir na cidade.

As reais transformações, no entanto, da sustentabilidade na mobilidade serão de caráter coletivo. Deverão promover, através de oferta de infraestrutura e serviço de qualidade, o acesso financeiro a veículos sustentáveis, o bem-estar da população e a diminuição das emissões de carbono.

E não se pode falar de sustentabilidade hoje sem falar de políticas públicas. A oferta de passeios e ciclovias acessíveis e que conectam pontos de interesse, assim como um serviço de transporte público barato e de qualidade, são os pontos chave para uma mudança do panorama da mobilidade nas cidades brasileiras

 

NRGHUB: Quais as tendências para os próximos anos?

Luiz Henrique: É incerto o que pode acontecer nas cidades brasileiras em termos de mobilidade. Desde a Política Nacional de Mobilidade Urbana diversos municípios vêm elaborando Planos de Mobilidade, prevendo e agindo sobre suas deficiências e potencialidades. No entanto, a inversão de prioridades no espaço urbano ainda é tabu para as administrações pois representa uma ruptura com setores econômicos e políticos das cidades.

Adotar estratégias para a mobilidade sustentável significa hoje desafiar o status quo do carro e de seu uso indiscriminado. Isto significa que as tendências mais otimistas indicam um caminho de pensar coletivamente a mobilidade, enquanto as pessimistas tratam de uma individualização cada vez mais presente nos deslocamentos o que impacta negativamente a coletividade.

 

NRGHUB: Dê alguns exemplos de melhoria na sua cidade

Luiz Henrique: Curitiba é um caso particular na questão da mobilidade, muito mais por sua história do que pelo estado atual das coisas. Hoje a cidade conta com as mazelas encontradas em todas grandes metrópoles brasileiras, uma mobilidade cada vez menos coletiva e mais congestionada.

As melhorias têm sido timidamente colocadas, como a ideia de integração temporal no transporte público e a implementação de passeios acessíveis e ciclovias. No entanto, o município investe pesado em uma política de recapeamento, ou seja, substituição da última camada de asfalto por uma nova, agradando setores ligados ao uso do carro. Isto indica que Curitiba não segue a Política Nacional de Mobilidade Urbana e ainda não conseguiu assimilar a maioria dos seus objetivos em razão da sustentabilidade.

 

Conecte-se ao nosso especialista: luiz.costa@coopere.net