Conexão da pesquisa científica e inovação tecnológica com os conceitos da economia circular
Mônica Tejo atual diretora do INSA – Instituto Nacional do Semiárido, Unidade de Pesquisa do MCTI é a especialista convidada do mês de agosto/2021 para a newsletter do NRGhub e vem compartilhar sua visão sobre a conexão da pesquisa científica e inovação tecnológica com os conceitos da economia circular.
Em meio a um turbilhão de informações que vivemos, novidades em nomes e terminologias, necessitamos envolver a sustentabilidade em cada ação realizada. Hoje em dia, fazer algo diferente do convencional é dito como inovar, e parece que virou moda dizer que é inovador.
Diante de tantos conceitos atuais, convido você a pensar em inovação como um processo que se inicia na resolução de um problema real, este problema pode existir em qualquer área, ou tema. A partir da identificação do problema, investimos tempo e conhecimento para pensar em resolvê-lo e assim, desenvolvemos a tecnologia em si, podendo ser protegida nesta etapa, gerando, por fim o valor, que pode ser social (inovação social) ou gerar nota fiscal (inovação tecnológica). Neste processo entra o conhecimento, a pesquisa, o desenvolvimento, que vão caminhando nunca escala de maturidade que vai de 1 a 9, chamada de TRL.
A pesquisa científica se conecta como sendo a base para geração da inovação e, se pensarmos um pouco, tudo é circular. E por falar em circular, um tema muito importante que devemos ter clareza sobre, é a economia circular (EC), que se caracteriza como uma economia restaurativa e regenerativa segundo a Ellen Macarthur Foundation (2015) e está baseada em 3 princípios que são os de “preservar e aprimorar o capital natural controlando estoques finitos e equilibrando os fluxos de recursos renováveis; otimizar o rendimento de recursos fazendo circular produtos, componentes e materiais no mais alto nível de utilidade o tempo todo, tanto no ciclo técnico quanto no biológico e estimular a efetividade do sistema revelando e excluindo as externalidades negativas desde o princípio”.
A Economia Circular (EC) pode ser vista como uma alternativa para redefinir a noção de crescimento, proporcionando benefícios para toda a sociedade. Assim, saímos do modelo de extrair, transformar e descartar e evoluímos para o circular, mas não somente neste contexto, mas também em elementos da pesquisa cientifica, onde o problema, citado lá nas etapas do processo de inovação, está relacionado a como manter a sustentabilidade do início ao fim.
Alinhado a este conceito, temos também a tendência para o alinhamento na gestão de projetos que apresentam indicadores e resultados ligados ao ambiental (Environmental), social (Social) e à governança (Governance), ESG, um movimento que vem repercutindo em todos os setores, com oportunidades de investimentos crescente nas mais diversas áreas.
Por outro lado, quando se realiza P&D, poucos pesquisadores estão familiarizados com a ideia de se pensar no modelo de negócio. Chega a ser uma afronta em algumas “castas” científicas. Assim, para atingir a inovação e avançar no TRL é preciso planejamento, visão estratégica e modelagem na pesquisa. Temos várias oportunidades diante de investimentos diversos disponíveis e cabe a nós, pesquisadores disruptivos, mostrar que dá certo.
A economia circular e o setor energético
A economia circular pode se relacionar com o setor energético por meio da diversificação da matriz energética no Brasil. Atualmente, as fontes de energias mais utilizadas no país ainda são de origem hidrelétrica e fontes fósseis, no entanto, há um grande potencial e movimento para utilização de energias limpas, como a energia fotovoltaica, eólica, biocombustíveis, biomassa e hidrogênio verde. Tais alternativas, podem ser fortemente influenciadas no contexto da economia circular. Além disso, a interação entre o setor produtivo, ICTs, IES e o poder público provoca a colaboração do ecossistema de energia, associando o desenvolvimento econômico ao uso consciente e responsável dos recursos naturais.
Diante de toda tendência e oportunidades relacionadas a EC e ESG como citado, em breve o INSA sediará o Centro de Tecnologia em Energias Renováveis do Semiárido promovendo ações relacionadas a PD&I e estimulando a utilização das práticas baseadas na economia circular, com oportunidades que incentive o desenvolvimento de Tecnologias Aplicadas às energias renováveis no Semiárido brasileiro.
Sobre Monica Tejo:
Atual diretora do INSA – Instituto Nacional do Semiárido, Unidade de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) com sede em Campina Grande-PB, com atuação em todo o Semiárido brasileiro. É Professora Associada no Curso de Graduação em Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG/Pombal) e Doutora em Engenharia de Processos. Em 2017, quando coordenava o Projeto “Transformando Vidas na Terra de Celso Furtado”, do Programa de Estudos e Ações para o Semiárido (PEASA/UFCG) recebeu o Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional na categoria inovação e sustentabilidade.