Com a divulgação recente de estudos que revelaram o gigante potencial de ganhos com a bioeconomia no Brasil nas próximas três décadas, o país vive um momento de otimismo do mercado com relação à transição energética e ao desenvolvimento de novas tecnologias voltadas à economia circular e de baixo carbono. Mas o imenso campo de oportunidades para o país esbarra em desafios relacionados à falta de recursos e visão estratégica sobre o tema, de acordo com o fundador da BFS (Built from Scratch) e sócio das plataformas Greentech América Latina e GreenTech Business, Tiago Brasil Rocha, Especialista do Mês na programação do Energy Connection.
Em entrevista ao EC, ele fala sobre o tema “Tecnologias Sustentáveis” e afirma que a inovação associada à sustentabilidade é a chave para fazer com que o Brasil atinja posição de destaque mundial com relação à exploração da bioeconomia. “Essa deve ser a tônica. A inovação na bioeconomia vai desde as melhorias incrementais que aumentam o potencial de entrega das áreas produtivas, passa por novas formas de produzir que, por vezes não estão sequer associadas ao tradicional ́terra-plantio-colheita’, e vai para os laboratórios de alimentos, cosméticos e fármacos. O Brasil tem enorme potencial nessas diversas frentes, mas precisa avançar na formação de pessoas, nas relações internacionais, em tecnologia e governança para atrair investimentos massivos na área”, avalia.
Atualmente, a bioeconomia abrange três setores no mercado nacional: a mitigação de emissões de gases de efeito estufa, a intensificação de tecnologias biorrenováveis e a consolidação da biomassa como principal matriz energética em diversos setores. Divulgado recentemente pela ABBI (Associação Brasileira de Bioinovação), o estudo “Potencial do impacto da bioeconomia para a descarbonização do Brasil” mostrou que o país pode alcançar arrecadação de US$ 284 bilhões anuais apenas com o aproveitamento da biomassa no mercado de energia até 2050. “Os números são expressivos. Se juntarmos a bioeconomia, energias renováveis e créditos de carbono, essa soma pode ultrapassar US$ 4 trilhões em 2050, segundo o IEA (International Energy Agency). E isso mostra a dimensão do potencial das greentechs, que são transversais e estão em todos os setores da economia”, defende Rocha.
O especialista prega que, para alcançar esses números, o Brasil depende de investimentos acurados para impulsionar as startups focadas em sustentabilidade. “Estudos da Bloomberg New Energy Finance mostram que o Brasil tem o maior potencial do mundo para as energias renováveis e o agronegócio e a bioeconomia do país estão entre os mais destacados do planeta. Mas falta estratégia, investimento orientado, formação específica, hubs para startups e scale-ups, além de fundos de investimento que verdadeiramente conheçam a questão”, afirma.
Para o consultor, outro ponto crucial é a maior celeridade nos processos legislativos sobre o tema. “A Europa já trabalha com metas de net zero há 15 anos, ao passo que o Brasil ainda está discutindo as regras do mercado de carbono”, lembra. O Projeto de Lei 412/2022, que regulamenta o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões, atualmente está na Comissão de Meio Ambiente do Senado. O especialista também critica a morosidade na regulamentação da abertura do mercado de energia. “O Brasil pode ser um dos líderes globais no tema. Estudos sobre energia solar mostram que, na média, o Brasil tem 40% mais sol do que a Alemanha, mas o país europeu investe mais do que o Brasil em sistemas fotovoltaicos. O mesmo acontece com a energia eólica offshore, que ainda depende de aprovação de legislação no país para o pleno desenvolvimento. Ao mesmo tempo, o Brasil tem vantagens sobre nações da Europa em alguns aspectos. Os países europeus praticamente não têm mais as NBS (Nature Based Solutions) e nisso estamos muito à frente”, cita.
No campo da inovação, o consultor reforça a urgência no impulsionamento das startups e scale-ups que atuam nos segmentos associados à bioeconomia e preconiza uma mudança de visão do mercado com relação ao papel dos empreendedores que se dedicam à pesquisa e desenvolvimento voltados à transição energética. “Quando os investidores só enxergam o retorno, perdem o principal. No tema das tecnologias sustentáveis, o importante é formar hubs intercomunicados, para aprender e aplicar tecnologias de fora e, ao mesmo tempo, exportar tecnologias daqui. É o intercâmbio que pode gerar um impacto rápido”, diz.
Além de sócio do Greentech Business, uma plataforma que ajuda a revelar empreendedores que atuam com foco na tecnologia associada à sustentabilidade, o especialista é também um dos 12 co-fundadores do Greentech Angels, um grupo anjo formado por profissionais, investidores e empresários interessados em investir em startups e scale-ups de alto potencial no segmento. “Existe um campo muito grande de crescimento de empreendedores brasileiros, que têm alta qualidade, mas precisam se estruturar melhor, buscar novos mercados e se inserir no mercado global. As startups precisam pensar primeiro no propósito, para resolver efetivamente as ‘dores’ do mercado, que é o cliente. É importante que pensem nas adicionalidades que representam valores ocultos e trazem retorno que vai muito além do desenvolvimento do produto, como as cadeias de suprimento e as necessidades globais. O potencial claramente existe”, conclui.
Sobre Tiago Brasil Rocha:
Tiago Brasil Rocha é fundador da BFS (Built from Scratch), empresa voltada ao crescimento de novas tecnologias, scale up e finanças sustentáveis. É sócio das plataformas Greentech América Latina e GreenTech Business, além do fundo anjo Greentech Angels. É co-head do Alumni da Said Business School – Oxford Business School; membro suplente do Conselho Fiscal do Banco do Brasil e da Klabin. Graduado em administração de empresas pela Universidade Mackenzie, é pós-graduado em economia pela Universidade de São Paulo, mestre em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA Executivo pela Oxford University – St. Catherine’s College. Foi executivo da área financeira e de relações com investidores da Suzano Papel e Celulose e Suzano Petroquímica (2000-2004), Kimberly Clark Corporation no Brasil e no Headquarter Global nos Estados Unidos (2004-2012), e da Klabin S.A (2012-2018). Também foi membro do Conselho de Administração da Gotchosen Inc – Orlando (2019).